CONTOS DO FÚRIA: PRIMÍCIAS (APOCALIPSE ZUMBI), por WillaCosta

Feliz Halloween pessoal! Passar essa data tenebrosa em branco? Nunca.
Leia agora um pequeno conto com uma releitura dos intermináveis zumbis que povoam a mídia e nossas mentes. Deixe sua crítica, o Fúria Imortal incorporou o Disqus para facilitar nosso contato.  Boas travessuras!          



               Carla contemplava as luzes dos carros lá embaixo. Gostava da sensação de sempre estar ‘‘acima’’ dos outros. Livre! Como um pássaro deve ser.  Tal fascínio pelas alturas era devido as suas próprias asas metálicas e potentes

                Foi convocada naquela madrugada para uma escolta de Brasília à São Paulo. Ela e Gabriel receberam poucas informações, mas sabiam que se tratava do presidente da república e de sua família. Os AMX’s protegeram o Legacy 600 até seu destino, onde seus ocupantes tomaram outra aeronave rumo ao atlântico. Dispensada da missão, assinou a papelada e chegou tarde em casa. Marcos tinha acabado de se deitar

                O acordou com beijos, jantaram e logo se entregaram ao sexo. Carla acordou por volta das três da manhã. Vestiu a regata de Marcos por cima da roupa íntima e, entediada, buscou algo interessante na tv. Mas toda a programação estava fora do ar, e todas transmitindo um ruído agudo e contínuo.

                - Puta que pariu. – sussurrou para si batendo no controle remoto – Um rio de dinheiro por 400 canais e nenhum funciona. Merda!

                Ela jogou o controle na mesa de centro e se dirigiu até a janela. Abriu a persiana e observou a cidade que nunca dorme. Ela parecia mais caótica esta noite. Buzinas e vozes pairavam no ar.  

                Ouviu vidro se quebrando no corredor do andar. Ela congelou, atenta a qualquer novo som. Percebeu passos apressados e uma conversa nervosa entre seus vizinhos. A criança deles chorava.  Fazia o que? Uma ou duas semanas que havia nascido? Ela não recordava.

                Deslizou nas pontas dos dedos até a porta e espiou pelo olho mágico. Viu os vizinhos passarem apressados em frente sua porta rumo ao elevador. O bebê chorava e abafava a conversa do casal, mas o homem pedia presa a mulher. Carregavam malas abarrotadas e ainda estavam com a roupa de dormir.

                Um helicóptero da civil sobrevoava as redondezas lançando luzes nos prédios. Carla começou a ficar apreensiva e buscou o celular que deixara carregando na cozinha. Estava sem sinal, mas havia umas vinte e tantas ligações perdidas. A maioria de seus pais que moravam em Recife. Outras de Gabriel. O companheiro de voo também deixara mensagens.

                Carla voltou para sala e começou a ler uma por uma, tentando entender o que ele queria dizer com ‘’crise’’, ‘’loucura’’ e ‘’saia da cidade’’.

               Ouviu passos atrás de si. Virou-se e na penumbra do corredor um corpo tatuado vinha em sua direção. Marcos estava nu e suava muito. Ela então voltou a atenção para as mensagens.

                - Acho que esta aconteceu alguma coisa, amor. – disse enquanto lia – O Gabriel me mandou umas mensagens estranhas... dizendo para sairmos de sampa em direção ao interior. Diz que algum grupo está tentando tomar a porra do poder, ou algo assim.

                Marcos suspirou de uma forma aborrecida. Ele não gostava que ela ficasse tão próxima do ex.  Ele sempre escondera bem o ciúmes, mas a cada dia estava menos a vontade.

                As mãos suadas de Marcos alcançaram os ombros de Carla. Ele a apertou com força enquanto a mulher dizia que não estava no clima para repetir a dose. Sentiu a respiração ofegante de Marcos fazendo cócegas em sua nuca. Seus lábios encostaram em seu pescoço. Carla curtiu o momento por um instante esquecendo a possível ameaça sobre a qual Gabriel a estava alertando...

Foi então que sentiu os dentes.

                Carla gritou enquanto Marcos afundava-os em seu pescoço. Tentou se livrar do aperto do homem, mas as unhas dele se enterraram nos seus braços. Num ato bestial, ele puxou apertou ainda mais a mordida e puxou, rasgando a pele fina do pescoço de Carla. Ela sentiu seu sangue espirrar enquanto Marcos rangia os dentes na carne grunhindo.

              Ela começou a se debater em desespero, buscando uma saída daquela dor excruciante. Suas canelas bateram sobre a pesada mesa de centro que ganhara de seus avós. Apoiou os pés sobre ela e projetou o peso somado dos dois para trás.  O impulso que suas pernas de piloto proporcionaram, os arremessou até a parede onde a estante que mantinha o bar ficava. Marcos bateu as costas sobre o móvel, derrubando várias garrafas no chão. O choque o fez libertar a mulher do seu abraço hediondo.

                Carla caiu para frente tentando conter a hemorragia do pescoço com as mãos. Seu coração batia rápido e a visão estava turva. Viu Marcos recuperar o equilíbrio após o golpe e se lançar ao seu encontro.

                - MARCOS! – gritava – PARA! PARA! POR DEUS!

                Carla se levantou, escorregando um pouco na bebida e  nos cacos de vidro que se espalhavam no chão encerado e correu. Marcos não obteve êxito em sua investida e caiu, quase agarrando o pé da parceira.

                Sentindo as forças a abandonarem, Carla rumou em direção ao quarto. Marcos gritava de uma forma animalesca e vinha em seu encalço. O corpo dele estava ferido em vários lugares devido sua queda no vidro estilhaçado. A boca do homem estava coberta do sangue dela, e escorria para seu corpo nu.

                Carla alcançou o quarto com dificuldade. Marcos disparou enlouquecidamente. Em terror ela jogou todo seu peso na porta para tranca-la. Porém, no ultimo instante o rosto de Marcos interceptou a ação, sendo prensado entre a porta e a batente. A quina de madeira abriu um corte na lateral do rosto do homem. Carla gritava o nome dele em vão enquanto empurrava seu rosto para fora. Ele por sua vez tentou morde-la várias vezes e resistia as tentativas da mulher de o enxotar .

                Carla buscou todas as suas forças, sentindo seu sangue pulsar para fora de sua garganta enquanto o fazia. Mas marcos não cedia. Ele já havia conseguido colocar um braço para dentro do quarto e puxava o cabelo da mulher que não viu outra solução a não ser se abaixar e jogar seu peso com as costas na porta.
                
        Ele ia entrar. Era uma certeza.

Ela encarou o criado mudo com a visão turva.  Meu Deus! Porque tão longe? Era sua única chance.
               
Ergueu-se apoiando as costas na porta enquanto Marcos a arranhava com a mão que conseguira infiltrar pela fresta. 
            
    Tomou fôlego e correu rumo ao criado mudo. Marcos sem perder tempo, escancarou a porta e foi atrás dela rugindo. Carla lançou a mão na gaveta, mas Marcos a derrubou com um encontrão. Mas Carla não largou a gaveta, e a trouxe junto na sua queda.
        
        Documentos e produtos de beleza usados voaram pelo quarto. O calibre 38 rodou para debaixo da cama. Marcos estava sobre tentando morde-la, retalha-la, mata-la. Carla o afastava com braços e pernas. As mãos do homem puxavam sua cabeça e arranhavam seu rosto profundamente.

- MARCOS! NÃO! NÃO!

Ela apoiou os pés na virilha do homem o alçando do chão. Saliva e sangue escorriam da bocarra de Marcos direto para sua cara. Ela flexionou as pernas e lançou Marcos por cima da cama. Ele rolou para trás dela caindo de costas no chão.

Carla o via por baixo da cama. Ele ainda se recuperava do choque. Entre eles o revólver. Ele se virou de bruços e encarou Carla, gritando e mostrando os dentes. Carla começou a rastejou o mais rápido que pode para debaixo da cama. Marcos em um movimento anti-natural se lançou em direção a ela.

Saíram rolando na direção da qual Carla estava caída. Marcos sobre ela com os dentes a mostra e a língua ensanguentada para fora. O corpo dele relaxava soltando as fezes que estavam em seu intestino e vomitando a refeição que haviam comido aquela noite sobre Carla.

O sangue de Marcos criava uma poça em volta dos dois. O cheiro de pólvora se misturava aos outros odores do local. Carla entrou em choque ainda com a arma fumegando em mãos. Seu coração bateu violentamente e então parou.

Foi neste momento que Gabriel entrou no quarto.

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