Fala galera do Fúria! Mais um capítulo hoje, um pouco mais extenso! Hoje será a vez de apresentar a última personagem chave para a trama, a jovem enfermeira Margareth!

No ultimo capitulo nos deparamos com o corpo de Absalon sendo arrastado por um cavalo em plena luz do dia pelas ruas de Montgomery! Que mistérios essa cidade ainda reserva?


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O avental de Margareth estava vermelho e úmido. O cheiro de sangue estava impregnando o local. O doutor West estava tentando cauterizar o ferimento. Ao lado da serra o braço de Absalon jazia pálido sobre uma mesa. Quando Margareth passou pelo corredor com os panos imundos de sangue, ouviu o gemido aterrorizado de Judith. “Que não seja o que ela disse, por Deus não!’’ pensou a jovem.

Após algumas horas todas as feridas de Absalon estavam tratadas. A cada hora as faixas tinham que ser trocadas. Absalon ardia em febre e lutava contra a infecção. Teve dois ataques pela noite e gritara freneticamente coisas desconexas. A palavra mais recorrente era “asas”. O toco do braço estava totalmente enfaixado e imobilizado e mesmo assim ele conseguiu arrancar as faixas e abrir alguns pontos em um dos ataques.


Pela manhã encontrou Judith ao lado do esposo. Ele havia sido amarrado a cama em decorrência dos ataques. Os olhos dele fitavam o quarto enquanto balbuciava seus devaneios.


“Asas...asas...asas..demônios...asas”.


A jovem negra estava desolada, chorava quieta abraçando a coxa do marido e esperando que ele voltasse ao normal. Cheiros de urina e fezes enchiam o local. Judith ajudou Margareth a limpar o homem e retorná-lo ao leito.


- Ele vai voltar ao normal, não vai? – perguntou Judith quando o Doutor West veio vê-lo.


- Ele é um homem forte. – respondeu – Perdeu muito sangue e suportou uma cirurgia dolorosa. Está em choque. A mente dele está tentando se recuperar.


- Vai levar muito tempo? – perguntou ela angustiada.


- Quem sabe. A mente é um mistério. Ele pode voltar a si hoje ou daqui seis meses. É uma batalha que ele terá que travar.


Era uma resposta difícil de ser ouvida. Margareth começou a admirar a mulher por estar sendo tão forte numa situação dessa.


Naquela tarde o Inspetor David foi até o consultório. Margareth notou que ele estava com uma aparência cansada, quase derrotista. Chamou Judith para conversar em um canto e viu de longe a mulher se alterar com ele. Lá no fundo ela já sabia do que e de quem se tratava e tentou não interferir. Mas se sentia responsável demais devido ao nome. Odiava ele! Como odiava. E o sentimento era recíproco. Um jovem policial entrou no consultório e disse algo ao ouvido de David. Ele se despediu e saiu apressado pelo saguão.


- Margareth? – chamou o doutor – Parece cansada. Foi muita ação para você o que houve aqui.


- Estou bem doutor. Não se preocupe. Sabia dos riscos ao escolher essa carreira.


- E está se saindo muito bem, diga-se de passagem. Mas creio que ouvir as acusações da mulher possam a deixar envolvida demais emocionalmente.


Margareth engoliu o sentimento. Estava tentando não se envolver, mas a cada hora que se passava se sentia mais responsável. Ver aquele homem perder o braço e ter sido torturado daquela maneira ajudava ainda mais em se sentir daquele jeito.


- O senhor tem razão. – respondeu a moça – Vou para casa, acredito que a Melody consiga cuidar do resto.


- Eu também estarei aqui, não se preocupe.


David chegara à casa do Chefe de Polícia Hanagam. Era um belo sobrado na parte nobre de Montgomery. O sujeito tinha até certa posse para o cargo que ocupava. Tocou o sinete à porta e esperou até que uma governanta a abrisse. Entrando na casa se deparou com uma belíssima decoração européia. Quadros, esculturas, tapeçarias de vários lugares do mundo que em seu pouco conhecimento histórico e cultural, David não podia detalhar e identificar. A governanta, uma mulher austera e velha, pediu para que ele aguardasse o Senhor Hanagam na biblioteca.  Então além de soberbo é culto.


                Pelo menos três mil exemplares de livros abarrotavam o pequeno cômodo destinado a biblioteca. O cheiro de mofo familiar à este tipo de sala estava presente. Havia uma mesa de carvalho ao centro onde se encontrava vários livros abertos, ceras, papéis em branco, envelopes e tinteiros. As cadeiras tinham um almofadamento escarlate profundo. Notou um pequeno bar do outro lado da sala e sentiu a saliva escorrer ao ver a cor amadeirada do conhaque.


- O senhor Hanagam não demora. – disse a governanta se retirando – Fique a vontade para se servir.


Maldita bruxa. Notou meu interesse!


- Obrigado madame.


Esperou uns dois minutos até a vontade ser o suficiente para o fazer se levantar e se servir. Serviu meio copo e retornou a cadeira. Tomou um gole e sentiu o calor descendo pela sua garganta. Rápido demais, idiota... Sentiu a cabeça rodar um pouco e procurou a mesa para pousar o copo sem notar que o colocava no declive de um livro aberto. O conhaque derramou sobre os papéis fazendo com que David se levantasse tão rápido, que o fez derrubar a cadeira. Puxou um lenço do bolso e começou a secar os livros e a mesa. Um documento em especial estava muito encharcado e quando o pegou para enxugá-lo, notou que era feito de tecido.


Examinando o pedaço de tecido, notou um símbolo estranho. Havia sido feito com algum tipo de tinta rubra e sua forma era peculiar. Lembrava um pouco ao símbolo maçom, mas as diferenças eram gritantes e não achou que o conhaque houvesse borrado a estampa. Na verdade parecia a David que aquele símbolo fora feito a mão, explicando suas imperfeições no design. Era composto de um meio circulo na base, uma linha ascendente que lembrava uma chama  e outra em um ângulo maior unindo os outros dois elementos dando ao desenho uma impressão representativa à um triangulo. Alguns algoritmos estranhos compunham o resto do tecido, a maioria ilegível.


Mas David reconheceu uma das palavras...


- Você está bem? – disse Hanagam surpreendendo David.


- Sim. – respondeu David escondendo o tecido no bolso em meio ao lenço – Apenas um pequeno acidente. Espero não ter danificado algum exemplar raro.


O gordo chefe Hanagam  caminhou até a mesa e conferiu os livros. Seus cabelos estavam úmidos e um cheiro adocicado de rosas vindo dele deixou David mais tonto. Depois de passar o olhar pelos livros relaxou e se sentou na poltrona atrás da mesa.


- Apenas alguns livros-caixas antigos. Nada que venha a me dar prejuízo.


- Sinto muito.


- Sem problemas rapaz. Sente-se.


David levantou a cadeira e se sentou. Notou Hanagam procurando algo na mesa embaixo dos livros. Seu olhar ficou preocupado e então se voltou para David tentando disfarçar o desconforto.


- Soube sobre o assistente do promotor Adam. – começou – E o senhor Mallory me mandou uma mensagem para que todo o alvoroço em torno da pessoa dele cesse.


David foi pegado de surpresa mais uma vez. Mais cedo Hanagam  o havia impedido de abrir um processo para investigar a propriedade de Solomon. Tentou ajuda de contatos na capital e pelo jeito isso já era de conhecimento tanto de Solomon quanto de Hanagam.


- Compreendo a preocupação do senhor Mallory, mas se ele não tem nada haver com o caso, logo não se importara de que a investigação afirme sua inocência.


- Veja bem meu jovem, - disse Hanagam se agitando na poltrona – da onde você veio as pessoas podem não ter um nome a zelar. No norte tudo é lindo e maravilhoso, imagino. Mas aqui as pessoas prezam o bom nome. Solomon Mallory faz muitos negócios. Negócios com outras províncias que ajudam a cidade a se manter. A guerra deixou cicatrizes rapaz, bem sabe. Ele está preocupado com a repercussão do seu nome em meio ao mercado.


- Da onde eu vim as pessoas zelam muito pelo nome e não temem que ele seja posto a prova para defenderem sua honra. – rebateu David – O que você está me pedindo é inconcebível! Quer que eu feche os olhos para algo grave. O homem perdeu um braço e seu corpo está imprestável, se...


- Se bem recebi o relatório do doutor West – interrompeu Hanagam – os ferimentos não parecem ter sido feito por nenhuma arma. Está mais para um animal selvagem.


- Mesmo assim ainda há o filho dele e dúzias de desaparecimentos no loc...


- Crianças fogem e pessoas reaparecem. Queixas não chegam ao departamento!


- Não pode fechar os olhos para isso!


- Basta senhor Anderson! – Hanagam se levantou esmurrando a mesa – Basta! Não tolerarei este tipo de afronta. Dei-lhe uma ordem e mesmo que o norte vença o mundo ainda sou o chefe de policia de Montgomery. Vai me obedecer ou então aceitarei sua carta de dispensa amanha mesmo.


Chegara ao ponto. Os olhos de Hanagam demonstraram mais do que estresse e raiva. O chefe estava se preparando para algo quando ele chegou. O que seria?


- Amanhã a terá. – disse David se levantando – E tinha razão Hanagam. Meu talento está sendo desperdiçado aqui.


Os passos de David bateram forte no chão amadeirado. A governanta bateu a porta com força quando ele atravessou o arco. Seguiu para a taverna do Tota e pediu uma dose dupla de whisky. Então esperou e fitou o tecido com o símbolo estranho. Era questão de tempo até ele chegar.


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Horas antes Margareth pegara seu casaco e saia pelos fundos do consultório. Guardava as luvas na bolsa quando ouviu alguém resmungar um xingamento. Uma mulher puxava um cavalo velho e enfrentava resistência do mesmo. Eram quatro horas da tarde. Por que alguém roubaria um cavalo a esta hora? Ao notar quem era ela soube a resposta. Não posso me intrometer!


- Senhora? – chamou – Judith, algum problema?


A moça a olhou assustada. Estava com os olhos fundos e úmidos.


- Não. – respondeu aliviando a rédea do cavalo apreensiva – Está tudo bem. Pode seguir seu caminho.


Margareth não gostou daquilo.


Não se intrometa! Vá logo!


- Sei o que pretende senhora. – começou se aproximando – Não pode ir até lá. Se ele fez isso ao seu marido, pode fazer com você!


Judith se assustou com a atitude da jovem enfermeira. Aquilo podia dar fim ao que ela estava disposta a fazer.


- Vá embora garota! – gritou – Esqueça que me viu aqui.


- Não pode ir lá! – insistiu Margareth – Por Deus, não!


- O meu filho está lá em algum lugar! – Judith se exaltou e começou a chacoalhar o dedo na face de Margareth – Eu não vou perdê-lo ou deixar que algo que aconteceu...aconteceu ao Abe.. Não vou! Não posso!


Margareth observou a mulher desabar em lágrimas. Ainda pode ouvir a voz em seu interior a pedindo para não interferir, mas não podia mais ouvi-la...


- O que está fazendo? – perguntou Judith confusa quando ela montou no cavalo.


O velho pangaré empinou quando a jovem o esporeou. Deu meia volta com ele e o controlou. O cavalo fez um trote elegante até Judith.


- A minha égua está amarrada logo a frente, é mansa e bem domada. Pegue ela.


- Por que está fazendo isso? – Judith não estava entendendo - Não precisa... não precisa!


- Preciso sim. – disse a moça decidida – Se meu pai atentou contra sua família ou a de qualquer outra pessoa, eu sei que preciso.

Então é isso pessoal! Compartilhem, opinem, critiquem.


Até a próxima!


Por Willian Costa


FF